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Comecei o dia acordando mais cedo do que o normal. Saí de casa e andei pela cidade como se quisesse engoli-la. Acho que quis. Sempre quis engolir a cidade. É difícil dizer a forma como a cidade me afeta. E afeta. Passei pelas ruas habituais que costumo passar ao sair de casa. Fui à Paulista. Comi um fast food com a vista privilegiada do cruzamento. As pessoas correndo, andando, conversando, rindo, se abraçando, vivendo na rua. No espaço público comum chamado avenida. Desci a Brigadeiro, tomando um Milk Shake de chocolate. Fumei um no parque. Vi o lago. O lago é bonito. Tem esse poder de ficar parado. E bonito. Diferente de mim que andei andei e andei, como se tentasse encontrar comigo mesma numa esquina. Numa brecha da rua. Numa brecha do espaço em comum com o outro. Encontrar o Eu. Usei o banheiro público. Ele estava em reforma e não tinha luz. Depois de mais de um ano usando banheiro privado, estar numa privada pública nunca foi tão simbólico. E cagar nela no escuro no banheiro em