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Mostrando postagens de setembro, 2017

Diálogos de uma morte (ainda não) anunciada

- Você já parou pra pensar nos seus medos? - Eu não sei se tenho medos - Todo mundo tem medos - Do que você tem medo? - Acho que tenho medo de algo cair na minha cabeça - Como assim? - Tenho medo de tudo que vem de. cima, sabe? - De tudo tudo? - Tudo que pode cair em cima de mim - Mas o que pode vir de cima? - Muitas coisas - Muitas coisas vem de cima - Muitas coisas caem em cima da gente - Muitas coisas estão acima da gente - Tem certeza de que não tem medo nenhum? -Tenho medo de fuscas - De fuscas? - De fuscas azuis - Você tem medo de fuscas azuis? - Eu tenho medo de fuscas azuis - Fuscas azuis não estão acima de nossas cabeças - Será? - Como? - Toda vez que fuscas azuis aparecem, alguém leva um tapa - Você acha que o fusca incita a violência? - O fusca azul é a violência - Azul é cor serena. Cor do mar, lembra paz - O fusca azul não traz paz. Na verdade pensar isso é uma ilusão - O fusca azul vem de cima? - Acho que sim - Então acho que tenho medo - To

Ciclo

É como se, mesmo sem querer Tivesse dado tudo certo depois do Colégio Passei um ano estudando o que gostava Entrei na melhor escola de teatro do brasil Atuei em duas peças Trabalhei como atriz remuneradamente Escrevi Fui convidada para colaborar num projeto de longa metragem Escrevi mais Montei um livro, registrei na biblioteca Nacional, até Entrei para uma oficina de escrita remunerada Orientada por um dramaturgo renomado Em que de 80 candidatos, 6 foram selecionados. E De Repente Eu pedi pra ir com calma Porque eu simplesmente não estava conseguindo entender a trajetória E não estou Sei o que quero, sei que estou no caminho certo. Mas algo me diz para esperar Algo me diz que as coisas não vão ser tão fáceis assim E não estão sendo. No meio disso tudo conheci alguém Alguém que me fez sentir coisas únicas Indescritíveis Alguém que me fez amar. Arrisco dizer que nunca amei assim. Nunca quis alguém assim. E descobri coisas em mim Que estavam aqui Ha 20 anos e

Homem do saco

Uma sala classe média Uma mulher classe média nervosa no sofá A campainha toca. Sua irmã classe média e seu Cunhado classe média tocam a campainha. Irmã - Chegamos! Cunhado - Chegamos! Mulher - Graças a Deus vocês chegaram!! Irmã - Sentiu nossa falta? Cunhado - A Manu deu muito trabalho? Mulher - De maneira alguma. Passamos um final de semana maravilhoso Irmã - Então pra que esse estado? Cunhado - A Manu e a Isa brigaram? Mulher - Imagina, foram maravilhosas Irmã - Você quer me falar alguma coisa? Mulher - Vamos jantar, preparei um jantar de boas vindas a vocês. Me contem, como foi a viagem? Cunhado - As meninas não vem? Mulher - Ja jantaram. Estão no quarto vendo tv Irmã - Vou dar um beijinho naquelas princesas Mulher - NÃO Irmã - Que está acontecendo? Mulher - O jantar vai esfriar Cunhado - Vem querida, estou morto de fome. Eles comem em silencio Irmã - Gramado é lindíssimo, você tem que conhecer. Não é meu bem? Cunhad

Carcaça

Há muito tempo Que não habito mais em mim Eu me tornei uma carcaça Feita de beleza e fim Há muito tempo que não sei onde estou Não sei o que sou Não sei como vou Virei uma pessoa cética Perdi completamente minha poética Perdi peso Ganhei deveres O farol aceso Enquanto passam os seres E eu fico

Ely

De alguma forma eu me vi naquela mulher. Embreagada de medicação para sedar-se do fracasso. Sem comer para limpar-se dos defeitos. Conversando com pessoas aleatórias, dizendo sobre sua trajetória enquanto diz coisas sem nexo. Aparentemente. Apenas aparentemente. Porque ela expôs, dentro de conversas confusas a confusão que era sua vida. Havia um vazio que a habitava. Talvez eu até a tenha achado inconveniente nas primeiras palavras. Mas depois me vi por completo. Não poderia deixar o espelho ir embora. Eu preciso acreditar que está tudo bem Eu preciso acreditar que está tudo bem Eu preciso acreditar que está tudo bem Eu preciso acreditar que está tudo bem Vida longa às mulheres